“Lixo” não, Resíduo: O que eu tenho a ver com isso?!

Artigo de Luís Gustavo Bet sobre a importância de dar destinação correta aos resíduos

 

Essa dúvida presente na cabeça de boa parte da população é algo que muitas vezes não recebe a atenção necessária, principalmente no nosso dia a dia. O nosso “lixo”, na verdade, é resíduo gerado pelo consumo durante nossas atividades e que fazem parte do ciclo de vida dos produtos. O descarte do resíduo na sua casa não é o ponto final dele. Portanto, tratar esse resíduo como “lixo”, é tratá-lo de forma reduzida e simplista, acarretando consequências danosas não só para o meio ambiente, mas para a sociedade, a economia e aos gestores públicos, conforme iremos aprofundar ao longo do texto.

Primeiramente, para nortear a discussão, necessitamos compreender que o descarte de resíduos sólidos têm implicações sociais, ambientais e econômicas para as as cidades. No aspecto social, é imprescindível considerar o caso dos catadores de recicláveis,  em geral, profissionais invisíveis para a sociedade, que não dá valor a esse tipo de  mão de obra. Em sua  grande maioria, esses trabalhadores não recebem salário e são moradores de rua. Este cenário coloca esses trabalhadores em situação de extrema vulnerabilidade social, intensificada no momento da pandemia, com muitas cooperativas fechadas. 

Ambientalmente falando, a quantidade de resíduo sólidos gerados no Brasil girou em torno de 79 milhões de toneladas em 2018, dentre os quais, cerca de 72,7 milhões foram coletadas. Isto é, cerca de 6,3 milhões de toneladas de resíduos descartados de forma irregular, contaminando a natureza, principalmente rios, mares e florestas nativas. Além disso, cerca de 60% dos resíduos coletados estão misturados,  orgânicos com recicláveis, aumentando ainda mais os impactos ambientais decorrentes dessa ação. Mesmo após quase 10 anos da criação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), e todo os programas de apoio à coleta seletiva, o índice de reciclagem está entre 2% a 3% na média nacional em 2019, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE). 

É justamente nesse ponto que devemos trabalhar a educação ambiental, visto que o maior contribuinte para este baixíssimo índice é a população, além do descaso do poder público. A conscientização da gravidade do problema e de todas as suas consequências é a forma mais eficaz de sensibilizar a sociedade, levando assim a uma mudança de comportamento. Nesse caso, tanto os cidadãos, quanto gestores públicos e empresários, precisam entender o lugar que ocupam nessa discussão e como podem contribuir para mitigar os impactos. 

Exemplo disso são as ações de logística reversa, que alguns segmentos empresariais já estão adotando com os seus produtos, como pneus, esponjas sintéticas, lâmpadas e medicamentos. Por meio da logística reversa, as empresas se responsabilizam por dar um “fim” adequado para o seus produtos, após o uso. Essa iniciativa é relativamente recente, uma vez que até pouco tempo atrás era impensável por representar um “gasto” a mais para empresa, se considerarmos a ótica do sistema capitalista no qual estamos inseridos. Por outro lado, demonstra como políticas públicas podem favorecer e fomentar práticas e iniciativas mais sustentáveis.

Concluindo, a questão dos resíduos sólidos vem recebendo uma maior atenção, porém como mostrado acima, ainda há muito a avançar. Nesse sentido, entender que os resíduos não são “lixo” e que devemos, sim, nos responsabilizar pelo destino que damos a eles, é absolutamente necessário. Sendo assim, no cenário atual, a única forma dessa transformação acontecer é pela educação, conscientizando as pessoas que somos o principal fator para o sucesso das políticas públicas de gestão dos resíduos. Lembre-se: temos apenas um planeta para vivermos e precisamos nos responsabilizar para que as futuras gerações também tenham direito à vida. Portanto, preservá-lo é o chamado mais urgente para a humanidade.

 

Luís Gustavo Bet  faz parte da equipe técnica do Programa Condomínio Sustentável. Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, granduando em Engenharia Ambiental e mestrando em Análise Ambiental Integrada pela Universidade Federal de São Paulo, desenvolvendo pesquisa na área de energia solar fotovoltaica e poluição atmosférica. Estudou ciências ambientais no Langara College, em Vancouver, BC, Canadá tendo contato próximo com o plano de ação em desenvolvimento sustentável da cidade.