O ar que respiramos
Artigo de Luiz Gustavo Bet: a melhoria da qualidade do ar neste período de quarentena
As principais metrópoles do mundo estão presenciando queda drástica no nível de poluição do ar durante a pandemia. Esse fato ocorre devido à redução da movimentação de pessoas pelas ruas da cidades, mais especificamente por meio de automóveis. O setor de transporte contribuiu significativamente para este resultado: com menos veículos em circulação, melhor é a qualidade do ar nos centros urbanos de todo o mundo neste período de quarentena. Essa transformação também ocorreu nos municípios brasileiros, principalmente em São Paulo e no litoral paulista.
Uma atmosfera mais limpa tem diversas implicações positivas na qualidade de vida e na saúde da população. Atualmente, estamos no início do Outono e os próximos seis meses constituem a época seca no Brasil. Durante esse período, as condições meteorológicas favorecem o acúmulo de poluentes nas áreas urbanas. Além disso, durante a época seca, a probabilidade de queimadas por todo o território amplifica esse cenário. Por isso, durante os próximos seis meses provavelmente veremos um aumento no número de entradas no hospital por pessoas com doenças respiratórias e cardiovasculares. Em tempos de pandemia, isso pode representar um problema a mais para o nosso sistema de saúde já tão comprometido.
Neste quesito, não podemos desvincular, portanto, poluição atmosférica de saúde pública. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, o custo com internação de pacientes com problemas respiratórios superou 1,3 bilhão de reais. Adicionalmente, afastamentos e perda da capacidade produtiva dos trabalhadores não são contabilizados, por isso os impactos econômicos são ainda maiores do que apenas o custo com as internações. Diversos especialistas na área de saúde e das ciências ambientais estudam os impactos econômicos que a poluição atmosférica pode gerar. Os resultados apontam que se gasta mais dinheiro reparando os danos à saúde, do que seria necessário para prevení-los.
Analisando o panorama atual da pandemia, estamos tomando medidas para que o sistema saúde do país não entre em colapso com o número crescente de casos de COVID-19. A principal delas, o isolamento social, ajuda a frear a curva de projeção dos infectados, porém, podemos notar que os benefícios ao sistema de saúde podem ser ainda maiores a longo prazo. Caso nenhuma medida fosse tomada, o efeito “bola de neve” poderia (e ainda pode ser) catastrófico nos próximos seis meses para o sistema de saúde.
O que podemos tirar de “aprendizado” desse momento tão delicado que vivemos é que nossas ações do dia a dia impactam diretamente a nossa saúde e o meio ambiente. Portanto, está mais que evidente a necessidade de repensar nossas ações e promover políticas públicas que reforcem hábitos mais sustentáveis na nossa sociedade. No caso, nossas escolhas diárias, como: usar mais transporte público e menos veículos particulares; oferecer e pegar carona com colegas de trabalho e utilizar meios de transporte menos poluidores, como bicicletas e carros elétricos. Estas são algumas alternativas que podem gerar impactos positivos na qualidade do ar e na qualidade de vida nas áreas urbanas. Que toda esta dolorosa experiência que o mundo está vivendo com a pandemia de COVID-19 sirva para desenvolver o sentido de responsabilidade ambiental em cada cidadão do mundo.
Luiz Gustavo Bet faz parte da equipe técnica do Programa Condomínio Sustentável. É bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, granduando em Engenharia Ambiental e mestrando em Análise Ambiental Integrada pela UNIFESP.