Smart cities - O Futuro dos centros urbanos
Neste artigo de Luiz Gustavo Bet, uma reflexão sobre cidades inteligentes e os desafios da gestão pública.
Smart cities - O Futuro dos centros urbanos
Luiz Gustavo Bet
O termo smart cities, ou cidades inteligentes, atualmente vem sendo mais utilizado pelo gestores públicos e pesquisadores da área. Apesar disso, o conceito é amplo e aplicado de diferentes formas nas diversas regiões do mundo. Nesse texto, iremos utilizar este conceito de smart cities: “ utilizar toda tecnologia e recursos disponíveis de forma inteligente e coordenada para desenvolver centros urbanos integrados, sustentáveis, habitáveis e mais igualitários...” [1].
No cenário de crise climática, a reestruturação dos centros urbanos é essencial para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Alguns desses ODS estão diretamente relacionados ao conceito de smart cities, como: 9 - Indústria, Inovação e Infraestrutura; e 11 - Cidades e Comunidades Sustentáveis. Indiretamente, o conceito está atrelado também a todos os outros ODS. Na prática, o que uma cidade tem que fazer para se tornar uma “cidade inteligente”?
Inicialmente, ela precisa promover o uso de tecnologias aliadas à tomada de decisão, políticas públicas e prestação de serviços, buscando ampliar acesso e qualidade para todos moradores. Nesse sentido, o monitoramento remoto, sensores, inteligência artificial e data science são ferramentas essenciais para otimizar a segurança pública, organização do ambiente, transporte, comércio e, até mesmo, para atividades de cultura e lazer da população.
Atualmente, o uso de aplicativos tem se tornado significativamente mais comum. Exemplo disso, são os aplicativos de transporte público, no qual os usuários podem ver itinerários, rotas, e acompanhar o veículo em tempo real. Este pequeno exemplo facilita a organização e a rotina daqueles que dependem do transporte público para se deslocar diariamente.
Entretanto, não podemos caracterizar a cidade inteligente apenas por esse fator. Para atingir o padrão de cidade inteligente, devemos introduzir outras tecnologias e, se possível, traduzir essas informações disponíveis em ações e melhorias, através da análise dos dados gerados pelos usuários. Utilizando o exemplo anterior, através dos acessos nesses aplicativos de transporte, o poder público pode transformar dados em informações importantes para a sua gestão. Pense no caso do transporte: a quantidade de acesso em um determinado ponto, a busca por uma linha específica e o horário de maior acesso, são informações que podem contribuir para adequar a frota para aquela determinada rota, criar outras rotas e interligar os diferentes modais, além de outras infinitas possibilidades.
Outro fator que torna uma cidade inteligente é a questão de infraestrutura e organização. Nesse sentido, diversos especialistas acreditam que o adensamento populacional é uma forma de reduzir os impactos socioambientais. Por exemplo, as redes de distribuição elétrica e o transporte demandam materiais e recursos para serem construídas. Portanto, quando temos uma cidade com uma menor área, a quantidade de recursos para atender a população tende a ser menor. Atualmente, muitas iniciativas tentam criar postos de trabalho e prestação de serviços nos bairros para que a comunidade não precise se locomover longas distâncias, demandando menos energia e gerando menos problemas de trânsito nas cidades.
No setor elétrico, vemos o crescimento da aplicação de energia solar fotovoltaica nas residências, conhecida como geração distribuída de energia. Esse tipo de aplicação permite que o consumidor se torne consumidor-produtor, enviando todo o excedente de energia gerado na sua casa para a rede. Porém, este cenário, cada vez mais comum, demanda tecnologias e dispositivos que permitam a adequação da rede elétrica, aumentando a necessidade dos smart grids para ter um melhor desempenho e menos perda de energia nesse processo.
Na segurança pública, os sistemas de monitoramento remoto e reconhecimento facial vem sendo usado para agilizar a ação policial ou combater atentados terroristas nas grandes metrópoles do mundo. Isso permite uma ação mais assertiva das forças policiais, podendo até mesmo barrar o uso de força desmedida de alguns agentes de segurança contra população, cenário que gera revoltas e discussão hoje em diversos países.
Entretanto, ainda não há um consenso sobre todos benefícios, e muitos acreditam que a estrutura e acesso desigual para essas tecnologias podem aumentar ainda mais a desigualdade ambiental e social para as pessoas de baixa renda. Portanto, políticas públicas e incentivos precisam chegar a essas pessoas para que possam desfrutar dos benefícios dessas tecnologias e que de fato melhorem a qualidade de vida dos cidadãos.
Concluindo, vimos que apesar de emergente e concreto o termo smart cities ainda gera debates e é aplicado de forma diferente pelo mundo. Entretanto, essa visão pode sim agregar e trazer diversos benefícios para toda a população, desde que o acesso e o incentivo partam do poder público. Em tempos de crise climática mundial, outras inovações devem ser criadas para que a vida nos centros urbanos possa ser mais justa sob o aspecto sócio econômico e os impactos ambientais mitigados em favor da vida e do equilíbrio do planeta.
Luiz Gustavo Bet é Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, granduando em Engenharia Ambiental e mestrando em Análise Ambiental Integrada pela Universidade Federal de São Paulo, desenvolvendo pesquisa na área de energia solar fotovoltaica e poluição atmosférica e é monitor ambiental na equipe do Programa Condomínio Sustentável.
[1] J.M. Barrionuevo, P. Berrone, and J.E. Ricart, “Smart Cities, Sustainable Progress,” IESE Insight 14 (2012) 50–57.